Olhos leoninos aqueles. Olhos de Capitu em pleno século XXI onde a ressaca havia se tornado maremoto. Seu dever era chamuscar o individuo ao tornar-se sua atenção. Noção aguda essa a nossa sobre a sua vida.
Oras, que falta de ética a minha. Não me apresentei. Muito prazer, caro leitor, eu sou a Folha. É verdade, riu por que?! Me auto denominei como folha. Hoje, descartada do folhetim dessa mulher. Chico Buarque foi um dos que deve ter, com certeza, deitado nos lençóis quentes de Capitu. Ela talvez tenha sido alvo e inspiração de uma de suas melhores canções.
Mansa, dança e cansa. E pronto. Tá, ótimo. Você já conseguiu saber até demais... E é bom que não vá além, embora eu saiba que a curiosidade consiste na verdade, em arrancar o lençol que resta em teu corpo nu. Ca-pi-tu.
Se evita. E só se olha no espelho para ajustar o zíper da calça. Embora seja meio bagunçada, não há quem consiga discordar com ela. Eu não ousaria... Não mesmo.
Obliqua... Embora não fosse cigana... Engana. Mais algumas doses de Whisky e sem dó, piedade, ou algum derivado de indiferença: Mais uma folha arrancada.
- Você não cansa, né?! - Indisposição nunca foi meu forte! - Responde no alto de sua sanidade. No alto de sua versatilidade. Conta uma ultima piada obscena e vai embora... Sem mesmo ousar pedir para ficar. Se não vai, te manda ir. E se não for, te joga pra fora. Sabe na verdade, que além de tudo, sua vontade é ficar. Assim como é a vontade de todos. Como não seria a sua? Sorri como cigana, olha-te ligeiramente como obliqua que é... E, te descarta. Como quem joga fora o restante de migalhas do café da manhã.
E quando vai embora, te deixa aí... Intacto, sem reação, olhando pela janela as diversas maneiras de andar com que ela passa ao meio das crianças pulando amarelinha na rua. Desejas por instantes eternos tornar-se um "Bentinho" em sua vida, embora Capitu seja tudo aquilo mesmo que nós já sabemos que é.
Rodeada por sirenes, musicas altas, em meio a essa vila, onde seu nome já se tornou patrimônio cultural. Mulheres a difamando por serem incapazes de provocar o que Capitu provoca e homens fazendo o mesmo por serem incapazes de provocar em Capitu, qualquer tipo de reação que não seja o desprezo.
E eu que além de "folha" me tornei prosador, para falar mais uma vez de Capitu. Que é dessas mulheres que se acaso a quiserem, só dizem sim.
Contraditoriamente me afasto. Tornou-se algo do qual não se lidar, não sei tocar. Não sei, embora a fizesse parte de meu solo no violão... Não sei.
Não foi adultério. Não houve adultério. Eu garanto. Embora seu território vasto e movediço do qual a infidelidade quer, seja um pouco sim de cada um de nós. Nem que seja em pensamento. Sei que se esconde por ser tú, Capitu.
Se tiveres renda, aceita uma prenda. Porque é Capitu, e como tal merece ser feita e refeita, a cada passo que der.
Olhos leoninos esses os teus, Capitu. Embora não me contaste qual seria na verdade o teu signo. Embora não me contaste nada. Embora já soubesse tudo de mim, como cigana. Obliqua... Disfarçada de si mesma.
Vai embora, deixa apenas um resto de café em nossas mesas e não volta.
Já não sei o que dói mais, Capitu. Os tapas em vida que me destes, ou Dom Casmurro. Que acaba por se tornar obra em minha vida também.
Já não sei o que dói mais, o adultério do qual te acredito inocente ou saber que hoje posso não valer nada, me tornei página virada e descartada do teu folhetim.
Cansei de falar... E talvez você tenha cansado de ouvir. Embora indisposição nunca havia mesmo sido característica de tú, Capitu.
Nota da autora: Espero que tenham gostado da junção que fiz de duas obras desse nosso universo.
Ressaltei Dom Casmurro, ao falar de Capitu, a colocando como tema principal do texto. E "Folhetim", de Chico Buarque, que é com certeza um clássico para qualquer mulher que se sinta independente. Deixem essa Capitu aí, na imaginação de vocês, do jeito que quiserem. Eu quis a deixar com um ar de mulher da vida, se assim posso chamar, mas pode ser também que talvez ela não seja.
Podemos dizer que nesse texto, criei uma Capitu com todas as características da Capitu do romance Dom Casmurro, vivendo uma vida de "Folhetim" na trilha sonora de Chico. Espero que tenham, mais uma vez, gostado.
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