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15 de jun. de 2012

Pisquei, me apaixonei. E agora, doutor?


Eu não reparo em nada e, de cara, reparei nas diversas maneiras de rir que ele tem. Escolhi como minha preferida aquela em que ao fingir estar irritado, desprende levemente um sorriso abençoado de dentro da boca. Eu o uso de calmante. Um soro do qual eu necessito. Dá pra entender, doutor? Aquelas duas horas foram os melhores 120 minutos da minha vida. Eu deitada imaginariamente em cima do seu coração tendo o poder total de seus batimentos. Me senti como em uma hipnose, eu te juro que me senti. E dois dias após ter conhecido, afirmei precipitadamente a mim mesma: É amor. Caramba, é claro que é amor! Você acha que não seja, doutor? Você acha que é cedo? É que, olha, eu não costumo amar e venho amando tanto. Meu coração chega a dançar diversos ritmos musicais. Usa sapatilhas e espartilhos quando necessário. É como se eu merecesse tanto, que desconhecesse. Além de gostar do moço nada mais aprendi a fazer. Aquelas duas horas foram os 120 minutos mais privilegiados da minha existência. Eu estava em êxtase. Havia conhecido o homem da minha vida numa fração de segundos. De cara contei, sou meio grudenta. Será que ele aguenta? 
Não, doutor. Não foi roubado. Foi eu que entreguei o beijo de mão beijada pra ele, e não é que eu seja fácil, mas tem como ser difícil desse jeito, doutor? Não dá. E aí eu me entreguei, eu estava sendo intensa pela 28ª vez na minha vida. E eu adoro números pares. Tanto que fomos pro quarto. Eu sei que fui precoce. Mas como não havia de ser? Ele era o homem da minha vida. E que homem! E que vida! Mas eu sei que arriscar-se também é perder-se... Mas é que eu gosto de amar... Eu gosto mais de amar do que de falar, doutor, acredita? E aí eu tatuei o nome dele no lado esquerdo do meu peito. Com todas aquelas junções de vogais com consoantes e um amor gritando estampado na superfície de sua morada. Talvez ele não quisesse tudo que eu dei, mas eu estava guardando tanto tempo, era como se ele tivesse aberto um guarda-roupa lotado de roupas amassadas que caíssem em cima dele. Eu sou intensa. Mas é que eu gosto de amar, doutor. O senhor não gosta? Pois deveria. 
E quando vi que abelhas rodeavam o meu jardim, o encharquei de veneno. Era meu jardim, doutor. É claro que era. Comecei a imaginar a nossa casa no gramado, os nossos filhos de olhos castanho claro quando fui interrompida. Em um mês eu havia gastado todos os lenços daquela casa. Da casa de minhas amigas, da casa de meus parentes.
Só não entendo... Por que ele foi embora? Eu já havia comprado passagens sem volta para uma imensidão de felicidade e ele desperdiça assim? Qual é o problema em ser precoce? Mais uma vez perdi o que nem ao menos ganhei, doutor. A verdade é que me apaixono a cada instante por quem nunca esteve apaixonado por mim. Mas é amor, é claro que é amor. Pode não ser reciproco. Mas é amor. Incurável? Sem maiores chances de sobrevivência? Pouco me importa, morrer desse mal não é tão difícil. Me dificulta viver dele.
Andam dizendo que eu sou precoce demais, você percebeu isso doutor?




3 comentários:

  1. Adorei o texto!! =)
    Um texto doce, que mesmo eu não me identificando com a situação, terminei de lê-lo com um sorriso no rosto e uma sensação gostosa no peito.
    Mesmo não aparecendo muito por aqui, adoro seus textos e leio cada um deles!

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    Respostas
    1. Fico enormemente feliz!
      Que carinho! Ótimo que gostou. Apareça sempre! Beijinhos.

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  2. Lindo, mesmo com um fim sad ainda me arrancou um sorriso.
    Adoro a maneira com que você joga com as palavras, seu talento é incrível Clara!

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