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25 de ago. de 2012

Ele anda junto com a minha saudade.


Ele nunca foi um Lord. Eu também nunca me comportei como uma princesa. Sempre me desesperei com qualquer arranhão que ele sofria. Ele me tranquilizava e quando a paciência encurtava era ele quem se irritava. Mas por fim, o amor existia alí. Existia porque Deus me falou, bem baixinho enquanto eu dormia, pediu para eu cuidar dele com todas as minhas forças, e eu que sempre fui fraca soube me manter forte ao me ver prestes a perde-lo. Lembro-me nitidamente da vez em que ele se machucou no futebol e eu invadi o campo só para saber se ele estava bem, ele desacordado me deixou com o coração na mão e a minha mão em seu coração, para assim saber se ele ainda batia. E em questão de segundos soube o que era o medo de não te-lo mais aqui. Sem contar das vezes em que fingiu estar se afogando só para me ver desesperada. Por fim dizia gostar de ver o quanto eu me importava com ele, e vaidosamente já não conseguia viver sem o próprio. Eu nunca entendi o porquê de algumas coisas ruins acontecerem com quem a gente ama, mas minha mãe me ensinou a não questionar nada e entregar aos céus. Como é que eu poderia lhe entregar aos céus, assim?! Como é que eu iria soltar sua mão e deixa-lo partir sem questionar nada?! Eu que questiono todos os tipos de existências na terra e não deixo nada passar em branco. Como não questionar a desistência dele de me amar?! Como aceitar que Deus, egoistamente, estava te querendo só pra ele?! Foram meses turbulentos. Em corredores brancos estranhamente turbulentos. Eu era sua mãe, era sua amiga, era sua mulher, era a universitária cursando jornalismo que ele conheceu quando fugia de um protesto em meio a uma avenida do qual eu participava. E eu o convidei a participar, o convenci a participar. Porque odeio pessoas que fogem. Que se amedrontam. E é por isso que estive lutando com ele. No time dele. Não deixando ele cair. O reerguendo a cada suspiro. Foi com medo de conhecer um eco profundo que decorei todas as orações possíveis. Era um absurdo ter que ouvir "All my loving" do Beatles sozinha. E ele me deixou sozinha. Que mundo injusto. Que doença maldita. Que aperto meu Deus, que saudade. Um vazio do qual eu nunca soube dar conta. Eu nunca soube entender a morte e até a encontrá-la não irei entender.
Tenho comido saladas com mais frequência, porque ele me ensinou assim. Saudável. E mesmo não vendo mais sentido em nada, sigo suas vontades para cumprir a minha tarefa de faze-lo feliz onde quer que ele esteja, até que os meus olhos se fechem definitivamente. Se eu acredito em alma gêmea? Ora. E como não acreditar? Quando se vive um amor tão verdadeiro não há nem uma parte não se iguale a do outro. E não é que eu esteja colocando empecilhos, mas como amar de novo, meu Deus? Se assim me torno sem uma parte de mim. E não posso doar pra mais ninguém essa minha pequena parte que sobrou. Não irei mais me refazer. Quem é que vou presentear com canções matinais do Nirvana? Com quem vou, de tão bêbada dançar ridiculamente em meio aos restos daquela boate da qual nós experimentamos um primeiro beijo tão igual ao último que coube certinho na última cena de nossa história? Um beijo que não quis dizer adeus, talvez porque eu não quisesse ouvir. Ele, que se foi sem se despedir de mim, sem me enlouquecer com um "Se cuida, branquela". Tudo bem, o que mais eu poderia esperar?! Ele nunca foi um Lord...

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