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24 de dez. de 2015

Meu primeiro natal sem ela




Uma sexta, uma noticia, um silêncio. Eu nunca mais ouvi a voz dela. Um jeito tão único de me chamar que eu poderia ouvir a metros de distância reconhecendo facilmente. Deus, com sua infinita graça e seu inacreditável amor, me presenteou com uma mulher a mais pra me cuidar. Ele, que na sua onisciência sempre soube que o cuidado comigo teria que ser dobrado. E foi. Mas ela sempre deu conta de tudo tão bem. Um metro e meio de pura organização. A minha única intenção era orgulhá-la. Era necessário uma roupa que a agradasse. O olhar dela teria que estar voltado pra mim como nas apresentações de fim de ano na escola.
As vezes ela brigava com Deus e o mundo, daí jurava de pé junto que eu era a única no mundo que ela amaria pra sempre. E eu sempre acreditava. Ela nunca mentiu pra mim. Creio que nem quando afirmou que pregaria uma peça na enfermeira que apertou forte o meu braço pra conseguir tirar sangue após horas e horas de manha. Ela me mimava como ninguém nunca me mimou. E eu a amava com a sensação de que a teria eternamente.

Hoje a vida é mais sem graça, as memórias em um primeiro natal vazio me rodeiam de tal forma que só Deus consegue ver. Parece que algumas datas foram feitas exatamente para e por certas pessoas. É como comemorar o dia dos namorados sem ter um namorado.
O presépio e a árvore não foram montados. Não pude vê-la sorrir com os olhos que brilhavam mais do que qualquer pisca-pisca. E o único aperto agora é o da saudade, não mais do abraço.
Chorei por três horas seguidas. Alguém que prometeu nunca me deixar, estava indo embora assim, sem nem me avisar.
Era automático ouvir o barulho do portão e correr para encontrar. Foi a primeira vez que solucei sem que ela se lançasse pra me fazer melhorar.
Queria que ela me visse entrando de noiva na igreja, com um vestido do qual ela com certeza teria me ajudado a escolher, porque tinha um bom gosto indiscutível. Queria que me visse cursando a faculdade que, apesar de não ser a que ela julgava ser melhor pra mim, era a que me fazia feliz. Ela me queria feliz.

Me acordava às 9h. Um horário que aos seus olhos, não era nem cedo e nem tarde demais. Escancarava a janela com um: "Vamô, Bá!" que me fazia hastear na mesma hora. Hoje é ela quem dorme... Descansa bem, meu bem. Ainda que as manhãs pareçam tão cinzas sem você, e os fogos de artifício percam as forças, ao menos chegam perto de te ver. E como quero te ver...
Os passos descendo devagar aquelas escadas, me parecem tão reais que às vezes quero crer.
E as manias que me transferiu ainda são exercidas sem pensar, mexer no cabelo até o sono chegar...

"Não faça nada errado. Ela só queria que você desse certo. Dê certo!"

3 de out. de 2015

Alameda



Hoje eu dormi na rua. Ao beirar à porta, ouvi uns ruídos estranhos e escolhi não entrar. Dormi na rua. O nervosismo de alguém esbarrou em um copo, pude ouvi-lo titubear mas percebi que não chegou a quebrar. E aí eu dormi na rua. Deus me convidou a reconsiderar mas eu e O pedi pra esperar. Quem é que pede pra Deus esperar? Eu só queria não ter o que pensar. E daí que dormi na rua? Eu venho sendo tão rua quanto qualquer desabrigado. Sou tão obrigada que não quis mais morar. Minha vontade era errar sem que um caminhão de cargas julgadoras me atropelasse mais. Me preocupa que eu não me culpe. Eu ouvia os pássaros que me assistiam escrever, me pedindo pra continuar e soava triste. Eu mal sabia o que ortografar. Passarinhos, me perdoem por fechar a janela sem avisar. Me senti uma velha que cansou de brincar, se recolheu e foi deitar. Eu tento voltar. Me perdoem porque ao menos, venho aprendendo a perdoar. Ou não, se eu houvesse perdoado de verdade, não temeria reencontrar, Ou não, talvez seja um falso perdão. Mas me esforço para parafrasear e não me contenho enquanto não desenrolar.
Entendo que, não há o que esperar de alguém que vem dormindo na rua por medo de entrar. Eu não queria abrir a porta, eu não queria abrir mão de mim só por não mais crer no "sim".
Eu só queria me encontrar. Ainda que eu continue nessa de querer rimar, sem parar.
Dormi na rua porque ali ao menos, posso cantar. Dormi na rua mas não quis mendigar, ao menos aprendi a não implorar.

23 de dez. de 2014

Sobre prato de sopa e amor

    
Bati a colher na mesa. Nada o irritava mais. Me olhava pelo vão entre o óculos e o jornal, só pra ver se eu não cometia nenhuma loucura que afetasse a sua sua nítida lucidez. Pronto, desprezo entregue com sucesso!
Bati a colher no prato, eu ainda não havia terminado de comer, ainda não havia terminado de amar. Eu só queria atenção, desde criança. Desde criança que eu sou tão criança.
O sujeito estava mais frio que a minha sopa. Eu sempre associei frieza com morte e em meio a esse clima fúnebre, os restos desse relacionamento já cheiravam mal. 
Era difícil aceitar um término, apesar de ser mãe solteiro desse amor. Foi assim, gerei e criei sozinha. 
Rolou tanta coisa nesses últimos meses, e é sempre tão difícil deixar um filho ir embora. Minha falta de amor próprio sempre resolve opinar. Resolve perdoar.
Chutei a perna dele debaixo da mesa, eu ainda não havia aprendido a implorar atenção de maneira formal, eu tinha que apelar.  
Também, o que eu poderia esperar? Alguém que mal entende o que diz Chico Buarque, mal poderia me amar. A sensação era a de que ele sempre estava correndo para poder ir embora, ainda que estivesse em sua própria casa. 
Bati a colher no prato! E não é que aparentemente eu era uma mulher firme? Pena que as minhas ameaças não amedrontavam mais ninguém. 
Sussurei: "Maldita a hora que nua, por dentro e por fora, me mantive fielmente sua".
Eu tinha que arrumar um jeito de sair daqui. Se até o Tim Maia precisou de motivos pra ir embora, eu que já os tinha de sobra, ainda não tinha ido por que? 
A saliva do orgulho é tão amarga pra tê-la que engolir só pra poder continuar...
Já passou tanto tempo e ainda me penduro nas roupas dele feito criança. Eu queria segurar a barra, mas consigo só com ajuda do outro lado. 
Dessa vez, fico defendo a frase de efeito. Nem isso sei mais finalizar.


20 de jun. de 2014

Os homens que eu conheço


Os homens que eu conheço são tardios. Tardios porque só se dão conta de que as mulheres importantes que aparecem em suas vidas, são importantes, a partir do momento que elas não decidem mais ser. 
Os homens que eu conheço não possuem motivos para irem embora. Mas vão. Porque são os homens. São os homens que eu conheço.
Os homens que eu conheço não se arrependem, desprendem-se em fração de segundos. Não imploram, não suplicam, aceitam. Ficam até quando der, sem nada dar. 
Conheço homens que pagam contas mas que devem amor a juros. Conheço homens que já não pagam nada e que nem se quer apagam a luz. Que dormem e acordam todos os dias com a mesma mulher sem achar isso fantástico. Os homens que eu conheço não acham nada fantástico. 
Está tudo bem para os homens que conheci. Nunca esteve tudo tão bem assim. Os homens que eu conheço esquecem, esquecem que eu os esqueci. Os homens que eu conheço voltam quando querem. E vão, eu um vão de solidão. Os homens que conheço provam a cada dia que são tão homens, são os homens que talvez eu fosse caso quisesse que o sentimentalismo deixasse de existir.
Ouvi falar sobre homens que descartam relacionamentos incríveis sem nem ao menos saberem explicar o motivo. Que amassam emoções como se fossem papéis usados. Que calam. Que estragam. 
Ironicamente, mal posso esperar para conhecer o que eu já conheci. Os homens que sempre me trombam por aí. Conheço homens que dançam, dançam até cair. E levantam, sem nem terem se recuperado da última música. Vão embora, embora fiquem rodeando por aqui. 
Os homens que eu conheço são vazios. E as mulheres que eu conheço estão cheias. 
Cheias de homens vazios. 

18 de ago. de 2013

Nós vamos acabar ficando.



Cê deve estar com a barrinha de razão mais cheia do que a minha e eu tenho total ciência disso. O que não significa que ela esteja completa. E quem é que no mundo tem completa razão de tudo?
Pra falar a verdade, de uns tempos pra cá foi que eu entendi o motivo de você ter aparecido. As vezes o amor é generoso mesmo, é... As vezes ele é. Eu voltei a escrever, e cê sabe que isso só acontece quando tem alguma coisa de muito errado, né? E pior que tem mesmo. Uma porção de desentendimentos e uma enorme dosagem alcoólica de ciumes é o que dá lucro nesse bar do fim de relacionamento.
Você já ameaçou ir, e eu já ameacei deixar que isso acontecesse sem interromper suas vontades repentinas. Óbvio que isso não anularia a minha vontade de sair correndo atrás, o que também não quer dizer que eu no ápice do meu comodismo e orgulho iria. A verdade é que nunca gostei de despedidas, sejam elas quais forem. Eu que não gosto nem quando você vai embora da minha casa, imagina da minha vida. 
Decorou Vinicius pra me recitar, o que me espantou, logo você que nunca decora nada. Achei que de tudo ao nosso amor seria atento mas me enganei, só estava tentando depois de súplicas noturnas ser um pouco mais sensível e romântico. Desatentou e me irritou. 
Me manda voltar pra quem você me arrancou dos braços, mas se quer saber, eu te prefiro sim... Ainda que você seja um eterno ingrato. Ainda que me negue, sou mesmo dessas que insistem. Me ignorou e em seguida me intimou para que ainda sim ficasse. As coisas andam difíceis mesmo, e azar o meu que sempre soube que seria assim. No fim de tudo, seu ego te diz que eu jamais seria louca de abandonar um futuro tão bem desenhado. E eu nas minhas horas de amor próprio puro afirmo que de tantas outras, os suspiros e re-suspiros - se é que essa palavra exista - ainda seriam meus. 
Nada que uma noite de amor não resolva, ou então piore. Nós andamos tão vulneráveis. 
O seu sorriso é um dom, que você, de tão ocupado, comigo mal sabe usar. Eu perdoo. Ou não, ou finjo que perdoo só pra poder ter mil argumentos para te atirar. 
Acordo em teus braços, arrependida, apaixonada. Não sei se fui eu que me joguei lá, se te olhei daquele jeito que só a gente sabe... Aquele jeito de querer, você sabe bem o que, ou se foi você que enquanto eu dormia me arrancou de qualquer canto de novo. Como na primeira vez.
No fundo os nossos finais tem todos os dias sido como recomeços, e nós vamos acabar ficando.
Já me vejo te julgando até a eternidade, por você permanecer sendo esse machista que quer determinar até a forma com que a nossa filha se veste. 
Por fim, juntos até que Jesus volte. Até que você descubra que me ama menos ou mais um pouco. Até que eu saiba realmente te perdoar, nós vamos ficar. 

8 de jun. de 2013

Sua mãe te ensinou o amor.


Sua mãe te ensinou a não mentir e eu quero crer que você esteja colocando isso em prática comigo, ainda que eu me rodeie de teorias generalistas sobre os homens, eu quero acreditar que eu esteja realmente fazendo toda essa diferença em sua vida. Ainda que eu me veja impaciente e as vezes até me faça indiferente, acabaria sendo bobagem terminar algo que é aos meus olhos interminável. Um amor sem começo e aparentemente sem fim. Eu continuaria sendo tua mulher ainda que houvessem outras mulheres para serem. E outra, chorei suas dores e participei de seus sorrisos. Quem mais faria isso? Era algo além de ser sua amiga... Era ser o teu motivo. Sua mãe te ensinou a cuidar das coisas que lhe eram concedidas e você aprendeu bem, me senti como um presente que você desembrulhou. Eu andava tão atordoada sem saber o que querer, sem saber o que ser, até que você me encontrou, me refez e me denominou como tua.
Me arredondou como tua, me mostrou bons caminhos e me tratou como rainha.
Sua mãe te ensinou a ser gentil. Ainda que nem sempre, ainda que as vezes, ainda que quando lhe aborrecessem o cavalheiro repousasse. Sua mãe te ensinou a amar, e glórias a Deus por depositar esse aprendizado em mim. Te vi se apaixonando e não me contive, eu era a primeira e era minha a chance de ser a única, eu aprendi com a minha mãe a ser única. Eu quero acreditar que eu esteja realmente fazendo toda essa diferença em sua vida. 


28 de abr. de 2013

A boa filha à casa torna.


Voltei pra casa. Me vi cansada e voltei. Me vi sendo muito. Me vi lotada. Me pedi. Quis me desfazer dessa arrogância mas não pude, me neguei. Nem me pergunto como consegui entrar em casa depois do tanto que me remobiliei. Eu jurei ser a mulher mais interessante do mundo e me vi despedaçar junto com as minhas teorias. Rasguei todas as minhas crônicas e sabe lá Deus o que vai ser das minhas próximas palavras. Sei que elas me faltam e que me fazem falta.
Me vi sendo muito, muito pra tudo. Não levaram o meu nome a sério. Eu sou Bárbara. Tão bárbara que cansei. Deixei minha ultima peça cair e me vi nua numa extremidade de um corpo desconhecido. Eu só queria me sentir um pouco mais mulher. 
Mas voltei pra casa e cá entre nós, o que me deu na cabeça de sair desvairada por aí? Voltei... Bom ver que meus prendedores de cabelo continuam no mesmo lugar e que ainda não sei onde coloquei o par da minha sapatilha azul... Que bom. Que bom que cansei e voltei, que bom que cedi. Que bom que não consegui ser mais maleável ao ponto de aceitar tudo de olhos fechados. Bom ver que o meu condicionador permanece de ponta cabeça e que mesmo eu sendo tão arrogante, ainda me querem bem nessa casa. Que bom, ao menos. A partir de agora, só me entrego para mim mesma. Só ouço das minhas musicas. Só vivo a minha vida. Qual é que foi a minha? Me dopei, me rasguei e me prendi... Corri pra uma cama que não era minha, aceitei um aluguel que não era meu. Mas voltei. Detesto ter que assumir que estava errada, mas estava. Eu era muito, eu sou bárbara. Tanto que esgotei. Voltei. 

14 de abr. de 2013

L'amore.


Eu avisei que largaria tudo caso você se despusesse a aceitar esse meu jeito de levar a vida. Caso você se acostumasse com o meu temperamento setenta por cento menina e o resto mulher. Te avisei e não, eu não estava brincando. Sei que lá no fundo, te assusta saber que é a pessoa mais importante da minha vida sem nem ter feito esforço pra isso. Eu largaria tudo, ainda que eu perceba o quanto te amedronto quando não satisfeita com nada jogo tudo pro alto. Mesmo sabendo que você encontraria alguém melhor, que gostasse tanto da cultura e da comida japonesa quanto você caso realmente procurasse, mas também sei que uma hora ou outra sentiria falta de mim e das minhas gritarias no ápice do meu italianismo transparente, nem que fosse só pra te irritar com cócegas nos pés, sentiria saudades de mim. Saudades da louca que te conheceu no semáforo e nunca mais te perdeu de vista. Talvez a loira do carro do lado fosse mais sexy e mais interessante do que eu, mas a minha fiel amizade com os anjos fez com que você também me mirasse. Eu avisei que desde então, eu largaria tudo por fazer desse romance o artigo principal dessa minha jornada jornalistica. Ainda que você ameace procurar coisa melhor para fazer, dividir experiências musicais comigo ainda tem sido algo que te arranca gargalhadas, as nossas poucas noites sozinhos ainda satisfaz o teu prazer, eu sei porque vejo, sou boa de ver essas coisas, e de fazer também, e além do mais prometi fazer você sentir essas sensações e ainda que eu seja tão desajeitada, te ajeito no meu colo e daqui você só sai se realmente souber como é amar outro alguém depois de tanto tempo.
E ainda que outras milhares de mulheres te admirem tanto quanto eu, estou intacta, daqui não saio e daqui ninguém me arranca. Só você, se quiser... Mas não quer. Ainda que quisesse, ou que cogite a ideia, sentiria falta de mim e das minhas gritarias no ápice do meu italianismo transparente, nem que fosse só pra cozinhar as mais diversas massas, te engordaria de tudo e principalmente de amor. Ainda que eu te estresse, te irrite e te subestime, é bobeira me deixar passar sem me notar, fingir não gostar, eu largaria tudo para que você ficasse. Nem que fosse só de mentirinha, só por saber que o seguindo o contexto, tenho passeado pelo seu corpo e pela sua vida como se pisasse em Veneza, calmamente, apaixonadamente. 

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